As questões referentes à humanidade na sua dimensão universal, a eterna problemática da relação com a transcendência, o sentido das permanência na constante mudança e a viagem real e imaginária como processo de descoberta e questionamento perpassam a vida e a obra de António Alçada Batista. Tal como relata, no seu livro de memórias, Pesca à Linha, «a certa altura, para além das amizades que duram, os meus interesses deixaram a Europa e foram para outros lugares». É neste contexto que encontra o seu «destino tropical». Primeiro o Brasil, depois Cabo Verde e por fim Goa e Macau tornam-se lugares de referência para vida e a escrita, onde identificou afinidades, descobriu vivências e fez amigos. Em lugares tão distantes entre si, mas com algo comum, sente-se em casa, achando que aquele sol e aquele mar o «predestinam para um destino anfíbio ainda não resolvido»..
O Brasil foi a descoberta mais importante, determinante para posicionar a sua dimensão como escritor e intelectual. Como ele próprio revelava, sempre sentira do Brasil «uma certa chamada»...«..um estranho caso de amor»...«a metade que me faltava na minha condição cultural expressa em língua portuguesa». Aí encontrou a alegria, a bondade simples, a verdadeira relação entre a arte e a vida, qualidades essenciais que não encontrava no sisudo modo de vida português, particularmente entre os intelectuais. Foi no Brasil que fez «essa quase descoberta» de si mesmo, e foi a permanente interacção com o Brasil que lhe moldou a força de uma “dupla nacionalidade estrutural”, uma verdadeira dimensão cultural e existencial luso-brasileira.
Neste relacionamento, feito de muitas idas ao Brasil e de acolhimento dos brasileiros em Lisboa, diversas foram as figuras e os amigos, desde Odylo Costa Filho a Jorge Amado, passando por perfis tão diversos como Rute Escobar, D. Helder Câmara ou José Aparecido de Oliveira. Se o Rio de Janeiro era a cidade de eleição, «uma cidade feita para mim», como fez questão de escrever, em S. Paulo tinha muitos amigos, e S. Salvador da Baia era a terra de Jorge Amado e de Caribé. O reconhecimento da intelectualidade brasileira foi notório com a sua entrada na Academia Brasileira de Letras como sócio correspondente. Mas era igualmente vibrante o convívio com os brasileiros da cena artística e da vida diplomática que passavam por Lisboa e muito especial o carinho com que os guiava na visita às terras beirãs de Pedro Álvares Cabral, especialmente à Covilhã e a Belmonte.
Através de Cabo Verde, descobriu África e a vitalidade da cultura crioula e reforçou a cultura dos afectos. Em Goa, sentiu-se em casa. Em Macau descortinou as diferenças subtis. Cada uma destas partes era única e diversa, mas indissociável de um todo que constituía um certo universo. A saudade era indispensável à sua «profissão de viver em português». Citadino assumido, era Lisboa o seu cais e porto de abrigo, onde recordava e aspirava ter os outros lugares e os amigos de todas as partes e onde sentia «uma imensa nostalgia dos trópicos».