António Alçada Batista no Centro Nacional de Cultura
A história do Centro Nacional de Cultura cruza-se com a história de vida de António Alçada Baptista. A ele devemos um contributo decisivo para fazer do CNC um espaço de reflexão e criação, lugar de cultura e encontro, na senda dos valores do humanismo e da liberdade. E se esta história cruzada se pode demonstrar através de factos e documentos, é certo que o seu significado é muito mais amplo, porque a generosidade, a criatividade, a força das ideias e dos valores, a capacidade de fazer com os outros, não são mensuráveis, mas persistem na memória, na identidade e na vitalidade que a instituição hoje tem. Por isso esta herança está viva.
António Alçada Batista faz parte da geração que deu corpo e forma ao Centro, um projecto associativo pensado por um grupo de monárquicos em 1945 e consolidado por várias sensibilidades a partir das décadas de cinquenta e sessenta, nomeadamente os católicos progressistas. Em 1953, ainda muito jovem, faz parte da direcção, juntamente com José Fernandes Martins de Carvalho, João Camossa Saldanha, João Paulo de Almeida Monteiro e Henrique Barrilaro Ruas. Em 1959, participa na equipa directiva liderada por Francisco Sousa Tavares, abrindo o ciclo de internacionalização e resistência e inovação cultural que marcou os anos sessenta. Em 1972, assume a presidencia, numa equipa também formada por Helena Vaz da Silva, Joel Serrão, João Bénard da Costa, Gonçalo Ribeiro Teles, Henrique Martins de Carvalho, Augusto Ferreira do Amaral, José Manuel Galvão Teles, Francisco Lino Neto, José Ribeiro dos Santos. No contexto nacional, este foi um tempo difícil e o Centro tornou-se o espaço agregador de muitos intelectuais, pensadores e criadores culturais, sintonizados com o panorama de mudança internacional dos esperançosos anos sessenta. Foi também neste contexto, que empreendeu o projecto da Editora Morais e, em 1963, lançou a revista O Tempo e o Modo.
Na fase de reorganização da vida nacional e de uma nova dimensão do Centro, liderada por Helena Vaz da Silva, a partir do final dos anos setenta, Alçada retomou a liderança cultural na instituição, como presidente da assembleia geral de 1980-1983 e de 1986-1988 e como vice- presidente desde 1989 a 2001. Se Helena Vaz da Silva foi a nova alma do CNC, António Alçada Baptista foi uma figura sempre presente, entusiasmado com os novos rumos, participante em muitos projectos estruturantes, uma âncora, um “cúmplice”, como ele gostava de dizer. Como sempre, considerava o Centro a sua casa, uma casa de cultura, uma casa de amigos. Sentia-se feliz por ver as novas gerações empenhadas na vida e no trabalho cultural e sempre de uma forma subtil, passava a mensagem e o testemunho. Vibrava com a projecção internacional que a Helena conseguiu dar e sugeriu linhas de trabalho para defesa da lusofonia, nomeadamente com os países de língua portuguesa em África e no Brasil. Ajudou a fazer pontes no espaço da cultura portuguesa. Alegrou-se com a abertura do Café no Chiado, no local onde vivera a aventura da Morais. Entusiasmou-se e entusiasmou-nos a todos. A sua herança é marcante e a sua presença será sempre uma evocação permanente.