Os Projectos
Irmandade
Fernando Campos

Só uma vez se cruzaram os nossos caminhos. Quase de raspão. Na Bienal do Rio de Janeiro, em 1989. Mas quem é que não conhecia António Alçada Baptista? Cumprimentámo-nos. O espanto foi meu por ele também me conhecer. Pelos vistos escritor conhece escritor. Somos uma irmandade

António Alçada Baptista era (e é) figura pública de primeiro plano, eu sabia-o. Sabia da sua presença e do seu papel na capela do Rato. Conhecia os seus livros. Não me era estranho o seu pendor amável e tolerante. Só lhe era intolerável a ditadura. Eu sabia também de alguma da sua inquietação metafísica, inquietação em que, mais uma vez, me sentia irmanado. Escritor, tolerante, metafisicamente inquieto, que mais faltava para ser irmão?... Naquela tarde, no Rio de Janeiro, quase de raspão nos cumprimentámos e apertámos as mãos... e os nossos caminhos tornaram a descruzar-se.

Fernando Campos
2.10.2006